Jorge e a Ancestralidade Vascaína

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Zanino di Pietro – Saint George Killing the Dragon. Metade do século XV.

Amigos Vascaínos,

Costumam dizer que Vasco é muito mais que futebol. Podemos chamar do que quiser: que o Vasco tem alma própria… que o Vasco é um conceito… que o Vasco é uma ideia…

O que é o “algo a mais”, é subjetivo. O que é concreto, e que toda a torcida vascaína sabe, é que somos muito mais que um clube repleto de títulos, de glória, e de história. Torcemos por algo que vai muito além de um clube….

Tanto é verdade que nosso clube vem sendo sistematicamente mal administrado há mais de uma década, por mais de um grupo que esteve no poder, e mesmo assim nossa torcida continua forte e gigante. certamente que cresce em ritmo muito menor que nossos principais rivais, até porque tivemos resultados muito abaixo do que nossa série histórica do século XX, mas continuamos com uma das maiores torcidas deste país.

O que vou escrever abaixo não é de cunho religioso. É um rabisco histórico que pretende apenas incitar o leitor a buscar mais informações e compreender melhor nossa ancestralidade.

Zanino di Pietro – Saint George Killing the Dragon. Metade do século XV.

Jorge da Capadócia é um personagem histórico que é cultuado por algumas religiões neste planeta. Como todo personagem que adentra no contexto religioso, o que chega até nós são informações das mais variadas possíveis. O que pudemos averiguar, baseados na “Passio” (*1) (um documento que seria uma espécie de Ata Laudatória dos feitos dos Mártires), nos mostra um verdadeiro guerreiro e herói. Jorge era um Tribuno Militar que teria vivido no século III e que em determinado momento de sua vida se recusou a queimar incenso aos ídolos pagãos. Por causa disso, foi recolhido a um cárcere, onde sofreu toda a sorte de torturas, não cedendo a elas. Acabou sendo decapitado por não ceder em seus valores e sua fé.

Obviamente, sua história serviu de inspiração aos Cavaleiros Templários. Os simbolismos repletos de valores morais decoram as gravuras sobre ele. Notem na gravura do século XV anexa a este artigo, que ele está matando um dragão, que simbolizava os vícios e as corrupções mundanas, ao mesmo tempo que ele defende uma donzela, que simboliza as virtudes. A cruz vermelha sob fundo branco era um elemento presente de forma constante nas gravuras, que nos remete a figura de um cavaleiro templário.

Os Cavaleiros Templários foram homens que se aglutinaram em uma ordem militar-religiosa repleta de fé e simbolismos de cunho moral. Tornaram-se fortes e extremamente unidos justamente por preservarem entre eles valores que iam além das riquezas materiais. Ao longo de sua história, acumularam riqueza, que acabou se tornando o principal foco de seus inimigos e perseguidores, sendo seu principal algoz o príncipe francês Filipe IV, o Belo, que objetiva roubar seus tesouros, usando para isso o Papa Clemente V. A sexta-feira do dia 13 de outubro de 1307, quando o rei Filipe manda suas tropas invadirem, saquearem e matarem os templários, se torna mundialmente famosa pelo derramamento de sangue e de todo o tipo de horrores, dando então origem ao lendário “dia do azar” (sexta-feira 13).

Ordem da Cruz de Cristo

Os Cavaleiros Templários não foram dizimados por Filipe, e os que não foram mortos se reuniram e foram para Portugal, o único país que não aceitou a bula papal e entendeu que não havia os supostos crimes praticados pelos Templários. Em Portugal, formam então a Ordem a Cruz de Cristo, cujo símbolo está na imagem ao lado e é muito conhecido de todos nós.

Vasco da Gama, navegador português, o qual dispensa apresentações a todos os vascaínos, era membro da Ordem da Cruz de Cristo, ou, como visto acima, também um Templário.

Séculos depois, em 21 de agosto de 1898, no bairro da Saúde, cidade do Rio de Janeiro, é fundado o Club de Regatas Vasco da Gama. Por termos maioria dos fundadores de origem lusitana, e certamente muitos deles pertencentes a diversas ordens e fraternidades, nosso clube nasce sob o manto de ideais de liberdade e fraternidade, cercado de simbolismos humanos de cunho moral.

Como dito no início deste artigo, nosso clube vai muito além do âmbito esportivo! Não à toa, nossa história é repleta de ações que exaltam as virtudes humanas com valores morais elevados. Assim como Jorge da Capadócia, resistimos bravamente a quem não nos queria por não ter os mesmos valores que tínhamos. Dissemos não quando quiseram nos dividir, com a famosa Resposta Histórica em 7 de abril de 1924. Resistimos a todo tipo de “torturas”, inclusive quando alegaram que não tínhamos estádio, construindo nosso majestoso monumento conhecido como “São Januário”, inaugurado em 21 de abril de 1927. Não nos falta paralelos de virtudes para nos situar historicamente no cenário nacional e mundial.

No dia de hoje, 23 de abril, é comemorada um data de cunho religioso dedicado a São Jorge. Tendo em vista toda essa ascendência histórica que vimos de forma sumária neste artigo, não há como deixar de traçar um paralelo aos valores deixados por Jorge da Capadócia, por Jaques DeMolay, Grão Mestre dos Templários, pelo Almirante Vasco da Gama, por José Augusto Prestes, presidente do nosso clube na Resposta Histórica de 1924, e por tantos outros, conhecidos ou não, que trazem em si esses bons valores de ética e de moral que, por sinal, hoje em dia se discute com muita intensidade em nosso país.

Que todos nós, vascaínos, voltemos a beber a água dessa fonte cristalina que alimenta nosso clube e, tal como nossos antepassados que nos legaram esses bons valores, protagonizemos novamente novas respostas históricas, fazendo o dever de casa primeiro em nosso clube, e, com isso, tornando nossa instituição novamente um manancial de bons exemplos ao nosso país. Esta é a reflexão que proponho com este artigo.

Saudações Vascaínas,

André Pedro

 

(*1) A Passio é um decreto Gelasiano datado do século VI. Não significa que as narrativas contidas nele são necessariamente fatos históricos.

 

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