A obviedade da objetividade

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A derrota da Espanha frente à Holanda marca a quebra de mais um paradigma no mundo do futebol. Representa o fim de uma era em que os toques precisos e a posse de bola exacerbada em relação ao oponente de nada representam sem a devida objetividade. É, definitivamente, o fim de um modelo no qual o mundo já estava se rendendo, mas que estava se tornando óbvio demais e, ainda por cima, chato de se ver por não proporcionar grandes emoções.

O passe é o principal fundamento de um esporte, mas não o único que precisa de atenção. Em um jogo de basquete, por exemplo, um quinteto que mantém a posse de bola mas estoura o tempo sem conseguir criar uma situação real de perigo ou sequer finalizado ao aro não converte seu aparente domínio territorial em pontos. Consequentemente, não vence o jogo. 

No futebol, o raciocínio é o mesmo: o que representa ter cinquenta e nove por cento de posse de bola e quase nenhum lance de perigo ou sequer chute com perigo ao gol? A Holanda deu a resposta a esse questionamento: NADA! Uma marcação bem encaixada em duas linhas compactas de quatro homens, marcação por pressão colocando a Fúria para tocar seus “belos” passes longe de sua área defensiva, a rapidez e a objetividade para se criar um contra-ataque e o belo aproveitamento – como sempre – nos lances de bolas alçadas à área adversária. A bela exploração feita na capacidade de conclusão sobre dois homens de fundamental importância que muito bem traduzem o que é ser objetivo no futebol – Van Persie e Robben – deu a tônica do que é a nova ordem no futebol mundial: ser rápido, ágil e, acima de tudo, objetivo.

Muitos irão pensar que é somente início de torneio, afinal de contas, em 2010 a mesma Espanha que viria a ser a campeã iniciou, também, perdendo para a Suíça. Concordo, só que nessa história, há um pequeno detalhe: naquele tempo, a Espanha estava quatro anos mais rejuvenescida e, aparentemente, com mais sentimento de “sangue nos olhos” em querer ganhar uma Copa do que agora. Além disso, o mundo ainda estava vislumbrado com o jogo dos “toques perfeitos” e no qual a brincadeira era colocar o adversário na “roda de bobinho”. Os próprios adversários, ainda, não tinham encontrado a forma adequada de se combater esse tipo de jogo. Ao que parece, agora já encontraram…

A derrota para o Brasil ano passado já dava indícios de que a Espanha haveria de se reinventar se quisesse manter sua aparente hegemonia mundial. Se aquela derrota para alguns – brasileiros, inclusive – fora encarada com ceticismo, o que dizer dessa, então? Os mesmos céticos já podem reconhecer a realidade de que a Fúria há de se reinventar, e o pior, em meio a maior competição esportiva do mundo se quiserem chegar a mais uma conquista? Ou irão querer colocar “panos quentes” e minimizar uma vitória convincente e o melhor futebol apresentado pela grande Holanda, agora, favoritíssima a escapar do mesmo Brasil num provável confronto de oitavas-de-final? 

Sinto, apenas sinto, que para a Espanha falta aquele atacante de peso, tal como Cristiano Ronaldo está para Portugal ou Messi está para a Argentina. Por sinal, ambos jogam em seus principais clubes, que apesar de seus pomposos planteis e a fama de dois dos maiores clubes do mundo, não possuem um atacante espanhol em seus ataques que metam medo em seus adversários. O reflexo está na seleção de seu país. Afinal, o titular da mesma é um naturalizado que preteriu seu país de nascimento e até com inteligência, pois ao passo que lá em sua terra que lhe adotou ele, Diego Costa, consegue ser o titular, aqui no Brasil capaz de nem ter sido convocado para essa Copa por Felipão. Mesmo que ele, Diego Costa, assim quisesse…

Enfim, estamos somente no começo, mas já observando às surpresas que essa Copa nos revelará. E creio que não irá parar por aí. Ainda assim, não tiro os méritos de quem se ostentou no auge por tanto tempo e nem tiro a Espanha do hall das favoritas a arrebatar mais essa conquista. Mas creio que muitos pensem que, nesse momento, ela esteja mais para ser a “zebra” dentre as consideradas favoritas do que para ser a “temida” Fúria que todos queriam distância há cerca de dois anos atrás.

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