Óbvio demais para tanta descrença

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Infelizmente, hoje não tenho muito que escrever. Nada do que o
público que me acompanha semanalmente não saiba. Nada do que já não fora
criticado por outras pessoas e aquilo que é óbvio para todos nós.
Absolutamente nada…

Confesso-lhes que comentar ou escrever algo em tempos de crise é uma
tarefa árdua e chata. Chega um determinado momento que cai na mesmice.
Vira “vala-comum”. Passa o sentimento de que o articulista é contra sua
própria instituição, que não sabe escrever mais nada do que somente
críticas e coisas negativas. Procura-se tão somente não transmitir algo
que seja ilusório, pois ao contrário das mentiras que nos acostumamos a
ouvir, simplesmente somos obrigados a jogar com a realidade. Pelo menos,
aqui, “o jogo é limpo”.

Entretanto, é difícil encontrar algo de bom e de esperançoso para
escrevermos a respeito do Vasco ultimamente. Está muito difícil.
Sinceramente, gostaria de ser colunista em épocas bem mais
interessantes, como a década de 1990, por exemplo, em que eu era somente
mais um de muitos jovens que se orgulhavam de vestir a camisa e dizer
“SOU VASCO”. Naqueles tempos, o vascaíno era considerado “metido” por
seus rivais. Passados treze anos, somos considerados “coitados” ou
“pobres infelizes”.

De maneira muito franca, prefiro particularmente ser “metido” do que
“coitado” ou mais um dos “pobres infelizes” que alimentam ilusões por
dias melhores e, no entanto, sem bases que nos levem a crer em tais
melhorias.

“Papo” sério

Não é preciso ser sábio entendedor de futebol para enxergar o óbvio,
Aliás, tal conforme a diretoria vascaína custa a enxergar. Dá para ver,
desde a derrocada do returno do campeonato carioca (Taça Rio) e de forma
mais nítida com os números dessa campanha ridícula que o atual time não
é capaz de se sustentar em um campeonato MUITO mais difícil como é o
Campeonato Brasileiro. Afinal e tal como diz um ex-árbitro, “a regra é
clara”: time que perde para Volta Redonda, Bangu, Olaria, Madureira etc;
NÃO é capaz de vencer a outros bem mais qualificados como São Paulo e,
em um patamar abaixo do mesmo clube paulistano, Vitória-BA. Tal como em
condições normais do futebol NÃO vence a tantos outros. Simples assim!
Pode vencer em alguma eventualidade que esse desporto é capaz de
proporcionar (razão pelo qual ele é tão apaixonante), mas afora as
exceções, a regra geral é perder.

Dentro desse cenário desenhado, desperdiçamos aproximadamente quarenta
dias de preparação que tivemos desde a derrota para o Madureira para
acertarmos o time para esse início de campeonato. Teremos mais um
período de preparação quando o campeonato parar para a Copa das
Confederações. De nada, no entanto, adiantará somente treino se não
houver qualificação do plantel atual. O time do Vasco ficará somente
organizado, contudo, continuará desprovido de qualidade técnica. Por
outro lado e mesmo nesse longo período de paralização que tivemos
nota-se, de forma muito óbvia, que a parte física dos atletas continua
de se lamentar, o que é lamentável para quem teve um período de
preparação longo. E isso, ao lado da organização, são duas coisas que o
Vasco deveria, ao menos, estar apresentando de bom nesse início de
competição. Por que não está, então?

Uma das amostras de que há essa sensação geral é quando encontramos
pelas redes sociais comentários de vascaínos sobre nossa briga direta
com Portuguesa, Criciúma, Náutico, Bahia e Goiás. De que, contra eles, é
que seremos obrigados a pontuar, e contra os demais adversários mais
qualificados como São Paulo, Atlético-MG entre outros, a ordem é não
perder de muito. Se possível, até conseguir um empate, em um dia que o
adversário não esteja bem e que nós estejamos mais inspirados. A que
ponto nós chegamos…

Trata-se do pior rebaixamento que uma instituição pode se submeter: ao
rebaixamento de sua moral, de sua autoestima. O Vasco pode, assim como
em 2008, cair para a Segunda Divisão e retornar no ano seguinte, fazer
boa campanha nos anos subsequentes e, em pouco tempo, aquela marca da
queda logo é substituída por glórias de quem soube se reestruturar em
tempos difíceis. O rebaixamento de divisão, nesse caso, serve como marco
na virada da vida dessa instituição e no início de um novo ciclo de
conquistas, de crédito e de respeito por parte de seus adversários.
Aceitemos ou não, o Corinthians é um exemplo. Outros clubes não
precisaram cair de divisão para iniciar seu resgate, como o
Internacional nesse novo século e que, hoje, tem um plano de
desenvolvimento sustentável e competitividade.

Ao contrário disso, como entre 2003 e 2008 e no retorno em 2010, de
quase nada vale se manter na primeira divisão sendo inerte, “insípido”
ou, simplesmente, o “coitado”. Inacreditável, no entanto, que a maior
luta e o que encheu aos vascaínos de esperança e de sonhos por dias
melhores foi justamente não aceitar a situação de rebaixamento em seus
princípios. Do grande escalão pela disputa das primeiras posições ao
escalão de intermediário para baixo, que fez a torcida festejar por ter
evitado o rebaixamento de divisão em 2004. Outrora respeitado e até
mesmo odiado, hoje o Vasco gera sentimentos de piedade em seus
oponentes.

Sonhos relegados

Em reportagem exibida pelo programa “Globo Esporte” quando na ocasião da
apresentação de Neymar ao Barcelona, passaram-se outras matérias de
apresentação de jogadores famosos e as festas produzidas por suas
torcidas: Robinho ao Santos, Ronaldinho Gaúcho ao Flamengo, Luís Fabiano
ao São Paulo e Cristiano Ronaldo ao Real Madrid foram os exemplos
relembrados. Proponho ao leitor fazer um exercício de pensamento com
quem lhes escreve e nos ajudarmos entre si a lembrar-nos da última vez
em que fizemos festa em São Januário por um craque apresentado.

A repercussão e a postura da mídia

Em sua coluna falada do dia 04 de junho no programa “Globo Esportivo” do
Sistema Globo de Rádio, o torcedor rubro-negro que recebe salário da
emissora como jornalista Renato Maurício Prado afirmou que “está
preocupado com o Vasco”, e a terminou com a frase que é sentimento de
todos nós: "reage, Vasco!". Em outra coluna escrita nem faz tanto tempo,
Fernando Calazans classifica o atual momento como “lágrimas em São
Januário”. Nas entrelinhas a triste certeza de que, para jornalistas
historicamente reconhecidos como “anti-Vasco”, se compadecerem de nosso
momento é porque estamos, de verdade, MUITO mal encaminhados.
Infelizmente!

Com todos esses argumentos, será ainda que não é muita obviedade para se
aclamar por uma reação já? Ou deixaremos a Caravela afundar, mais uma
vez, para "despertamos" à nossa realidade e só reagirmos (como há muito
tempo acontece) no pior estágio possível?

A perspectiva futura

Apostar que esse time do Vasco emergido na crise administrativa e
financeira do clube será capaz de permanecer na primeira divisão, agora,
é como uma disputa em “roleta russa”: por mais que se tenha uma chance
somente de não morrer entre seis ou sete possíveis, ela é real, seu
efeito é fatídico e amedronta a qualquer um. A grandeza proporcional
entre clubes e vagas para o rebaixamento nos leva à constatação, no
entanto, que um a cada cinco clubes será rebaixado, o que consiste
matematicamente em um percentual de queda maior do que o de morte na
“roleta russa”.

Querer colocar somente a responsabilidade sob os “ombros” de Paulo
Autuori sem lhe dar material humano é, ao mesmo tempo, um gesto de
comodismo e de covardia. Comodismo por não lhe conceder, ao menos, um
time mediano capaz de fazer extrair o máximo rendimento possível, e
enxergar a Autuori como o “Messias”. Covardia por, mesmo perante sua boa
vontade de trabalhar sabendo que terá muito pouco, delegar a ele toda a
responsabilidade pelo ajuste de um time ruim. Mesmo perante os erros de
Autuori nas duas últimas partidas quando escalou de forma errada,
ninguém ousará a lhe cobrar perante o cenário de total descaso pelo
clube que vem da diretoria em propagação aos que, hierarquicamente,
estão abaixo.

Ainda que todos nós saibamos, o Vasco precisa oferecer bem mais para
Autuori realizar um trabalho digno ao menos. Precisa, além de tudo,
eliminar do elenco jogadores em excesso para certas posições, e buscar
ao menos cinco nomes que venham a resolver o problema e que componham o
time como titulares absolutos: um goleiro, um zagueiro, um volante, um
meio-de-campo e um atacante. Se quisermos chegar ao final da “grande
procissão” com ferimentos mais leves” dentro do que é possível para nós
atualmente.

Reflexo da passividade

Não é de hoje que o Vasco é constantemente prejudicado pela arbitragem.
Por Heber Roberto Lopes, inclusive. No entanto e ao contrário da maioria
dos clubes, o Vasco não reclamou da arbitragem desse cidadão em seu
último jogo, em que ele usou seu apito como arma e auxiliou a nos
conduzir a nossa segunda derrota nesse campeonato. Clubes como Flamengo e
Corinthians estariam na mídia, até agora, gerando repercussão de seus
erros. No Fluminense, Atlético-MG e São Paulo, respectivamente, Abel
Braga ou Fred, Alexandre Kalil e Juvenal Juvêncio estariam lembrando e,
desde já, pressionando os próximos árbitros a não errarem mais contra
seus clubes. No Vasco em sua pior crise de identidade de toda sua
história e que “entuba tudo”, é bem capaz de, num futuro próximo, vermos
cidadãos como esse senhor citado e outros, a exemplo de 2008, nos
tirando pontos importantes que farão falta no cômputo geral e decisório.
O time ser ruim não excetua a constatação de que somos constantemente
prejudicados pela arbitragem. Parafraseando ao companheiro Marcelo
Paiva, do Portal WebVasco: “até quando…” seremos inexpressivos e
aceitaremos esses lamentáveis fatos?

Vencedor da última semana

PARABENIZO ao estimado leitor LUÍS CLÁUDIO DOS REIS ALVES, do bairro de Olaria no Rio de Janeiro, por ter sido O VENCEDOR do desafio da última semana! Em tempo: o
Vasco venceu 04 VEZES o São Paulo no Morumbi em partidas válidas pelo
Campeonato Brasileiro (1980, 1989, 2011 e 2012 (Fonte: site Infopedia).

Desafio da semana

Logo mais à noite, o Vasco enfrenta “fora de sua casa” o Atlético-MG. No
Campeonato Brasileiro de 1997, em plena campanha que nos levou ao
tricampeonato vencemos o mesmo rival por 2 vs 0, em um dia de chuva no
Maracanã, numa quinta-feira à noite. Quem foi o autor dos gols do Vasco nessa partida?

"Toque final"

Apenas uma pergunta pertinente para quem raciocina um pouco, sem
precisar ser conhecedor de marketing para respondê-la: o que esperar de
um plano de sócios que é lançado "nas escuras" de uma madrugada, sem a
merecida divulgação e repercussão e precisando um clube urgentemente de
receitas para sanar suas dívidas?

Cristiano Mariotti

cris.mariotti@crvasco.com.br

Twitter: @crismariottirj

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Cristiano Mariotti

Professor Mestre em Ciências em Sistemas Computacionais

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