Faxina necessária

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E depois de uma alta temporada, tivemos boas notícias a
respeito do futebol vascaíno na última semana que passou. Após mais de oito
meses, finalmente ao que parece, o Vasco volta a possuir as certidões de débito
positivas com efeito de negativas, viabilizando a assinatura com patrocinadores
fortes como a Caixa Econômica Federal, possivelmente a Nissan e a LG, sem risco
de ter suas fontes de receita penhorados tal como outrora tivemos. Por sinal,
tais notícias vieram após o anúncio do retorno de nomes importantes e que já
contribuíram e muito para o clube em um passado recente e que poderão ainda
demandar seus esforços por um Vasco melhor, mas que sozinhos e sem suporte,
tanto de cima como de quem está aos seus lados, quase nada resolverão.

Dorival Júnior é um técnico que sabe trabalhar com
elementos limitados. Foi trazido em dezembro de 2008 logo após o triste
episódio da queda e topou o desafio de reconduzir o Vasco à primeira divisão.
Trata-se do técnico que tem o melhor aproveitamento no comando dos times do
Vasco nesses últimos cinco anos e gosta do trabalho com os jovens. Não se
apresentou tão mal assim em seus últimos dois times, mas também não foi o
desastre que muitos dizem. Tem como principal virtude a força do trabalho de
motivação sobre seus comandados, além de saber montar planteis vencedores, como
foi o exemplo de 2009 e o merecimento reconhecimento obtido de seu trabalho em
nosso retorno à Série A. Ao contrário de seu antecessor, não filosofa e nem
ostenta o estrelismo : chega já trabalhando e, para nós, é o que realmente
precisamos nesse momento. Muito pouca conversa em razão direta inversamente
proporcional ao trabalho. 


Juninho é, particularmente, um ídolo para mim e para
muito vascaíno de minha faixa etária que teve a oportunidade de presenciar
àquela equipe vascaína do final dos anos 1990, em especial. Particularmente,
considero-o, ao lado de Edmundo nesses últimos vinte anos como o jogador mais
identificado com a torcida que não tenha sido formado no clube. Apesar de ser
um mestre até em tomar decisões que frustram a torcida, com certeza é a fiel
representação da alma vascaína que chega em um time desalmado e sem sangue para
lhe dar um pouco desses dois “ingredientes” no qual nós, vascaínos, tanto
precisamos de ver e no qual estamos alijados faz tempo. E ainda que tenha seus
trinta e oito anos de idade, só o hiato técnico e intelectual que o “novo
velho” dono da camisa oito possui em relação ao seu antecessor, Pedro Ken, já
justifica o porque fez tanta falta nesse tempo que andou afastado. 

Finalmente, a se confirmar a vinda do goleiro Hélton
será, tal como nos casos de Dorival e Juninho, mais um que poderá reencontrar
no clube a oportunidade de escrever um novo ciclo vitorioso. Hélton saiu injustiçado
há mais de dez anos atrás. Muitos no clube e na própria torcida, naquela época,
lhe atribuindo a culpa por não ter feito a defesa naquele chute indefensável de
Petkovic naquela final de 2001, esquecendo-se no entanto de suas defesas
importantes, inclusive na final do Mundial da FIFA um ano e meio antes, em que
fez sua parte ao defender um dos pênaltis naquela decisão mas que, a seguir e
infelizmente, o “Animal” Edmundo desperdiçou a nossa oportunidade da virada.
Defendeu um dos três grandes times e particularmente o que torço pelo sucesso
sempre em Portugal – o Futebol Clube do Porto, possui ampla experiência e, no
mesmo caso de Juninho com Pedro Ken, possui um abismo técnico entre Hélton e os
goleiros que temos no elenco. Ao meu ver, não tem nome mais apropriado do que o
seu nesse nosso atual momento, em que MUITO PIOR do que a carência técnica,
possuímos uma carência de autoestima, de identificação, de sangue e de luta em
nosso elenco de futebol. 


No entanto e tal conforme já escrevera anteriormente,
somente esses nomes NÃO IRÃO resolver todos nossos problemas. 

O caminho do Fluminense 


Em 2009 e com a chegada de Cuca no clube tricolor, aos
poucos o técnico ganhou respaldo da diretoria em um ambiente no qual todos já
consideravam o clube como um dos virtuais rebaixados à segunda divisão do ano
seguinte e afastou àqueles atletas que não queriam nada com a bola em campo.
Inclusive “medalhões”, pagos pela própria patrocinadora, que percebeu e deu
força para que uma ampla reformulação do meio para a parte final do campeonato
fosse feita. Apostou em jovens com vontade de mostrarem seus valores e, com
isso, conseguiram uma “arrancada” que lhes garantiu um quase milagre de
permanecerem na primeira divisão. Encaminhou, além disso, uma estrutura para
que Muricy Ramalho desse continuidade em 2010, chegando ao título brasileiro
depois de vinte e quatro anos de espera.

 Um ano antes, no entanto, mesmo percebendo que o time
estava à deriva e que havia jogadores com qualidade técnica ruim e outros com
muito pouca vontade de mostrarem serviço no clube, a diretoria vascaína
recém-eleita nem os afastou e nem teve competência para lhes motivar ou
devolver a autoestima àquele grupo em que mais de um de seus próprios diretores
na época desqualificou com declarações de que o time era fraco. Tal como no
presente momento, nota-se nesse atual elenco cruzmaltino que existem jogadores
sem a mínima condição de atuarem com a camisa do Vasco, além de desconfiar que
outros tantos não estão a se esforçar como deveriam: seja por falta de
pagamento, por se aproveitarem da desordem administrativa no balneário ou por
mau-caratismo mesmo.

 Tal como escrevera em minha coluna “Só
profissionalização salva?”, Cristiano Koehler hoje é, de fato, o Presidente
executivo do clube, assim como Ricardo Gomes é o responsável por responder pelo
futebol vascaíno. Ambos devem explicações a Roberto, que como Presidente de
direito, deve (ou deveria) exercer seu papel constante de cobrança e vigília
sobre tudo aquilo que acontece no Vasco, pois foi reeleito para tanto, e não
simplesmente para delegar suas tarefas a terceiros que nem vascaínos são e que
não estão tomando as medidas que são necessárias para que o pior não aconteça.
Afinal, não ter dinheiro para grandes contratações chega a ser compreensível apesar
de não aceitável para um clube cuja receita mais do que triplicou nesses
últimos anos de gestão; entretanto, não possuir gestão competente mesmo se
pagando a profissionais (caros) para que se faça o trabalho necessário, é
estarrecedor.

 Em outras palavras, o Vasco precisa através de sua
diretoria administrativa e de futebol em parceira entre si e mais com o
treinador Dorival Júnior tomar as medidas cabíveis e afastar aos que estão
“deitados eternamente em berço esplêndido”, antes que seja tarde demais e o
caminho não tenha retorno. De que adianta, por exemplo, obter certidões que
garantam a regularização da dívida fiscal com a Receita e cair para a segunda
divisão, ficando novamente sem metade da cota de televisionamento no ano
seguinte, além de mais uma marca negativa para a história do clube? Torna-se
necessário "enxutar" esse elenco, dar chance a alguns jovens que
possam, a custo mais reduzido, render bem mais do que muitos veteranos estão
rendendo, além de reforçar esse time com, pelo menos, mais um lateral-direito,
um zagueiro e um volante, além do goleiro que pode ser Hélton. Ficar, no
máximo, com vnte e seis jogadores no plantel. Procurar honrar os compromissos
e, o principal, devolver O COMANDO ausente desde a saída de Rodrigo Caetano, em
dezembro de 2011.

 Resta saber qual caminho Roberto e seus comandados irão
querer seguir: o próprio da catástrofe já trilhado em 2008, ou o de sucesso do
rival, em 2009.

 A decepção Autuori

 Sei que se trata de um passado para ser esquecido, mas
como não escrevi nada na semana anterior por compromissos profissionais que
impediram meu tempo, serei breve e resumirei meu pensamento sobre esse assunto.

 Em 2003 quando era o técnico da Ponte Preta, Abel Braga
dirigiu um grupo de jogadores que estavam, em sua maioria, com até dez meses de
salários atrasados, segundo o próprio treinador comentou na época. Ainda assim,
seguiu firme no comando ponte-pretano até a última rodada do certame brasileiro
e auxiliou o clube a escapar do rebaixamento, rendendo-lhe lágrimas de emoção
naquela época.

 Paulo Autuori chegou filosofando à respeito da grandeza
do clube e de sua torcida. Dizendo-se vascaíno, sabia das condições no qual o
Vasco passava naquele momento e, mesmo assim, bancou o desafio. Em três meses,
bastou chegar uma proposta muito melhor financeiramente do São Paulo (de forma
antiética e imoral, adjetivos esses que fazem parte de um clube acusado por
aliciar a jovens jogadores nessa atual gestão do tricolor paulista em
descompasso com seu passado recente de títulos e conquistas) para que toda sua
tolerância e, pior, seu “amor” terminassem. E justo em um momento em que o
clube estaria por assinar novos acordos, financeiramente interessantes e que
poderia auxiliar a garantir àquilo que, numa inversão de papeis, ele (Autuori)
impôs ao clube.

 Um erro não excetua ao outro: o fato do clube não pagar
em dia (como é a prática errada na maioria dos clubes de futebol) não anula a
falta de caráter de Autuori em não assumir a verdade sobre seu real desejo de
sair do clube. Tivesse o Vasco com sua autoestima de GIGANTE, Autuori teria
sido demitido por justa causa por expor a marca de forma negativa da
instituição no qual, até então, trabalhava. No melhor dos casos, seria demitido
pelo péssimo trabalho realizado. Não conseguiu dar padrão a um grupo muito
fraco de jogadores, mas que outro técnico como o próprio Gaúcho conseguiu, no
comando, fazer melhor do que ele.

 Possuir um grupo limitadíssimo em suas mãos atenua a
fraqueza de seu trabalho, mas não esconde as deficiências sobre o mesmo e nem
isenta-o de qualquer culpa pelo tempo perdido e mal aproveitado nessas duas
grandes paradas que tivemos para formatação de um time mais bem organizado. Se
hoje "o time do Vasco é um nada" como disse o jornalista André Rizek,
da Sportv, Autuori faz parte desse grupo que contribuiu para tanto.

 Em síntese, Autuori trasmitiu a impressão de muitos que
passam ou que já passaram pelo Vasco: utilização do clube como espécie de
"plataforma" para fins pessoais. Tal como muitos para mim, fechou
qualquer possibilidade de regresso um dia.

 Vencedor do último desafio

 Parabenizo ao leitor THIAGO RICARDO, do Rio de Janeiro,
por ter sido o vencedor do desafio proposto na coluna do dia 03/07/2013. Em
tempo: os gols marcados pelo Vasco diante do Internacional, pelo Campeonato
Brasileiro de 1997, foram de Odvan e Filipe Alvim.

 Desafio da semana


 O possível retorno do goleiro Hélton nos faz relembrar a
trajetória desse goleiro, na minha opinião particular, o melhor que o Vasco já
teve após a "era Carlos Germano". Conquistou dois títulos
inesquecíveis como titular em nossa meta, além de ser cria de nossas divisões
de base. Em sua estreia como titular em jogos oficiais pelo clube, o Vasco venceu
no Mundial da FIFA por 2 vs 0, no "antigo" Maracanã que, até então,
era verdadeiramente do povo. Sobre qual time foi essa vitória?

 "Toques finais"


 1º) Antes, jogadores, técnicos e até diretor-executivo
de futebol. Após, o posto de principal rival do clube da ave-preta,
"queridinho" da mídia "toda-poderosa". Agora, nosso lado
fixo no Maracanã. O que mais falta a nós perdemos para a Flunimed?

 2º) Ao transferir o nosso mando de campo para Brasília,
o Vasco não se deu conta de que trata-se de um lugar onde o rubro-negro tem
jogado bem e não tem perdido seus jogos. Perdeu-se no aspecto técnico e, até
mesmo, na torcida, a maior parte dela era do arquirrival nesse último domingo.
Computou-se a NONA derrota do Vasco na era Roberto para o Flamengo, além do DÉCIMO-PRIMEIRO
jogo seguido sem vitória sobre o arquirrival em Campeonatos Brasileiros.
Concedeu-se até o direito deles confeccionarem ingressos com propaganda de
sócio-torcedor de seu clube, até na parte destinada à torcida do Vasco. Em
troca, veio um dinheiro, necessário de fato. Valeu a pena a troca enunciada?

Cristiano Mariotti

cris.mariotti@crvasco.com.br

Twitter: @crismariottirj


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