Diretor de Marketing da TAP analisa situação do Vasco

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Diretor de Marketing da TAP analisa situação do Vasco

Em 01/06/2017 19:02

 

C.R. Vasco da Gama: Uma nau sem almirante e sem rumo
Gestão disléxica e miopia política comprometem o futuro do clube

Um Vasco irreal que ilude sua torcida é o que há tempos temos presenciado. Apesar das recentes vitórias e até mesmo no caso de o time conseguir uma posição honrosa ao final do Campeonato Brasileiro, os cenários político, administrativo e financeiro que se apresentam num horizonte médio de sete anos são assustadores.

Quando falo na dislexia da atual gestão (e da anterior) é pela dificuldade de compreensão de suas necessidades e demandas, de forma clara e transparente, em um mundo real.

Provavelmente, tanto pela incapacidade de qualificar talentos para exercer determinados cargos operacionais, como também pelo possível “bloqueio” nas inteligências dos que coordenam essas pessoas desqualificadas. O fato é que este “distúrbio” há muito tempo está afetando o clube em diferentes graus e intensidade. Além disso, ainda somos motivo de chacotas pelos mais variados factóides e bravatas proferidas por diferentes dirigentes ao longo dos anos.

O fato real é que o Vasco está a beira da insolvência, com um alto grau de endividamento operacional e falta de liquidez no curto prazo para honrar despesas e dívidas. Simplesmente a conta não fecha, pois o faturamento é menor que a arrecadação e ainda possui uma dívida preocupante a saldar. Aliado a esta situação adversa, os direitos de transmissão da TV Globo entre 2019 e 2024 foram antecipados em 2016. Ou seja, uma fonte significativa de receita não existirá até 2025. E não sou eu que faço estas afirmações, elas podem ser facilmente extraídas do último balanço publicado e em análises de alguns veículos de comunicação.

De uma forma simplória, a esperança é que o time consiga ter um ótimo desempenho em campo (que é o meu desejo como torcedor), para que haja um aumento significativo na arrecadação dos jogos e atraia novas marcas a investir em diferentes projetos de marketing.

Contudo, independente do nosso desejo de vitórias e de que o time atual possa devolver um pouco de alento aos corações combalidos dos torcedores, quem poderá ser o almirante que conseguirá colocar esta nau no rumo em meio a tantas tormentas por vir?

Infelizmente as lentes das lunetas desta nau só conseguem enxergar o horizonte político do clube ainda de forma totalmente míope. Miopia pela dificuldade real em perceber que a atual conjuntura necessita de uma revisão rápida de determinados conceitos que orientarão gestões futuras. Infelizmente, até o momento, só consigo perceber o “mais do mesmo”.

Conceitos como, mudança de mentalidade, liberdade e nova forma de administrar ainda são frequentemente falados em todos os discursos de possíveis candidatos (e não é de hoje).

Quando vejo, por exemplo, uma chapa anunciar uma candidatura em que, na apresentação do candidato, a mesa está composta por diversos ex-vices que trabalharam ativamente por um longo período em duas gestões comprovadamente ineficazes e ainda escuto no discurso as palavras mudança e renovação, alguma coisa está fora da ordem.

Ao escutar a palavra renovação me vem logo à mente deixar algo como novo ou reestabelecer algo que se tinha interrompido ou ainda substituir uma coisa velha por outra nova. Será que é somente disso o que o nosso clube precisa?

Não percebo nenhum candidato destacar a palavra inovação. E, no meu entendimento, esta deveria ser a palavra-chave, que engloba outros conceitos importantes e resume o que um clube desportivo e social necessita para se manter competitivo e atrativo aos seus associadose potenciais investidores nos dias atuais. Inovação pode proporcionar uma maior eficiência em todos os processos inerentes ao negócio, aguça a criatividade, torna uma organização mais competitiva, permite uma quebra de paradigmas, gera impactos positivos tanto nas relações profissionais como pessoais, intra e extra muros.

Algumas agremiações já entenderam esta necessidade de realinhamento, face a uma nova realidade de mercado, e estão há algum tempo em um processo de mudança objetivando a sua competitividade, tanto no ambiente desportivo como social. O problema é que o nosso clube ainda vive sob a égide de que os outros são inimigos e não simplesmente saudáveis concorrentes. Não conseguimos observar as melhores práticas existentes no mercado e continuamos míopes navegando sobre permanente tormenta. Sem falar no que outrora era uma brincadeira saudável entre os clubes (ganhador e/ou perdedor) e se tornou literalmente uma guerra, que produz mortos e feridos, que fomenta o ódio e esquece como o esporte pode funcionar como um grande agregador social. Há anos que a percepção de valor da marca Vasco no mercado perdeu a atratividade de investimento, por estar associada a mandatários sem perfil de liderança, credibilidade e, em alguns casos, idoneidade.

O Vasco, através da história, sempre se destacou como um clube de vanguarda. Por que não aplicar novamente a teoria à prática?

O problema é que nada disso será possível sem que haja uma revisão profunda do seu Estatuto. Ainda vejo uma total inviabilidade quando uma grande parcela de beneméritos e grandes beneméritos se mostra avessa a mudanças. E o pior, dependemos de boa parte deles para que essas mudanças saiam do papel. Somente através da votação de um novo Estatuto que se poderá por em prática todos estes conceitos destacados anteriormente e auxiliar o clube a vislumbrar um horizonte menos turbulento, navegável e, porque não dizer, sustentável (não resisti ao modismo).

Que eu possa voltar a presenciar tantas glórias, como aquela da primeira vez em que fui ao Maracanã em 1970 e pude acompanhar a trajetória vitoriosa do nosso time no Campeonato Carioca daquele ano. E de lá pra cá, tantas e tantas idas ao São Januário, ao Maracanã e demais estádios Brasil afora acompanhando esta paixão incondicional chamada Club de Regatas Vasco da Gama.

De tudo isso fica somente a certeza de que os próximos gestores (não mais, mandatários) terão que cumprir uma inglória e exaustiva tarefa de refazer tudo, com celeridade, seriedade e criatividade (se colocar inovação como conceito central, ainda melhor). A nação vascaína precisa exigir desde já, mais do que nunca, uma total responsabilidade administrativa, fiscal e política da gestão atual e futura, independente de “oposições” e/ou “situações”, para não presenciarmos o nosso clube sucumbir diante de tanta incompetência e seus pseudos gestores saírem incólumes.

Que continuem as vitórias dentro de campo e apareçam muitas outras fora dele.

Saudações cruzmaltinas.
Francisco Guarisa
Ex-Diretor de Marketing do Movimento Unido Vascaíno
Desde 2008 é Diretor de Marketing p/ o Brasil da cia. aérea TAP Portugal

FONTE: SUPERVASCO

LINK: http://www.supervasco.com/noticias/diretor-de-marketing-da-tap-analisa-situacao-do-vasco-235148.html

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