Lições de um carnaval

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Durante a madrugada de segunda para terça-feira, estava a escutar os comentários dos radialistas da Tupi / RJ, Eugênio Leal, Fábio Fabato, Luís Fernando entre outros que compunham a mesa de comentários sobre os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial.

Quando eram decorridos, aproximadamente, trinta minutos de desfile da Portela, um desses comentaristas (não me lembro de qual, agora) discorreu sobre como a Portela havia mudado seu comportamento, sua postura, sua forma de encarar o carnaval. Não mais como uma coadjuvante tal como a velha Águia – a MAIOR CAMPEÃ do carnaval carioca – se “acostumara” a se colocar nos últimos nove anos, ou simplesmente, três gestões do ex-Presidente, que quando assumiu em 2005, logo como “cartão-de-visita”, conseguiu levar a tradicionalíssima escola ao PIOR POSTO de sua história! Naquele ano, com um desfile desastroso, a Portela só não foi parar no Grupo de Acesso pela primeira vez em sua história e logo no primeiro carnaval do Presidente recém-assumido porque a Tradição (escola oriunda da própria Portela) conseguiu ser pior e ficar com a vaga de única rebaixada.

Classificação do Grupo Especial – Escolas de samba do Rio de Janeiro – 2005 (Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Resultados_do_Carnaval_do_Rio_de_Janeiro_em_2005#Grupo_Especial)

Prosseguindo em seus comentários, esse mesmo comentarista, ao mesmo tempo, vibrava com a volta da Portela às suas raízes: um belo desfile, um ótimo samba, mas acima de tudo, o resgate da autoestima do portelense ao ver, mais uma vez, sua escola de samba com “ar de autoridade” perante as demais. Longe da arrogância, contudo, respeitando a si mesmo, à sua história no carnaval carioca e mostrando que, de fato, ela merece por parte das outras tal respeito, por ela (Portela) representar uma fatia considerável dos grandes desfiles já realizados. Pois através da Portela (com 21 títulos) e da Império Serrano (essa ainda precisa reencontrar seu caminho, apesar de seus nove títulos conquistados), Madureira ficou conhecida durante muitas décadas como “capital do samba”.

E como a Portela conseguiu esse resgate, essa redenção? Pelo que acompanho de samba e corroborando com os comentários dessa mesma equipe de jornalistas e comentaristas de carnaval, em primeiro lugar através da UNIÃO dos baluartes portelenses em torno de um nome para mudar o panorama desfavorável e sem perspectivas da velha Águia. Em segundo lugar trocando, através das eleições ocorridas em maio do ano passado, um Presidente que já não dava mais esperanças por dias melhores por um que representasse a vontade do portelense em resgatar seus próprios princípios: que viesse a respeitar a história da Portela, seus títulos, sua comunidade e sua própria torcida espalhada pela cidade, construída e passada de geração em geração. Não é a toa que a azu-e-branco suburbana, segundo uma pesquisa por amostragem, ainda tem uma das maiores torcidas mesmo com TRINTA ANOS de jejum.

Creio que qualquer semelhança entre Portela e Vasco, até onde relatei, esteja longe de ser mera coincidência. Ao mesmo tempo em que eu escrevia e que vocês liam, passava-nos na cabeça uma associação direta entre a Águia e o Almirante. Esse último, ao contrário da tradicional escola de samba, continua a se “arrastar”. Sem perspectivas, sem nos dar ao menos um alento enquanto a diretoria administrativa tendo como Presidente Roberto estiver no poder do clube. Aliás, não é só no Vasco que a “guerra de vaidades” é mais forte do que os interesses do clube: na Portela, o ex-Presidente chegou a ser candidato no último pleito, mas a vontade de mudança do quadro social da Portela foi mais forte do que a vaidade do próprio, em querer mais um mandato mesmo sabendo que o torcedor portelense (o que não é associado) não mais o queria lá.

E é nesse horizonte que vislumbro a esperança por um futuro melhor para nosso clube. Na fé de que o quadro social do Vasco seja mais atuante do que o Conselho Deliberativo, que NÃO FOI CAPAZ de cumprir sequer o que reza o item “e” do artigo 96 do Estatuto de nosso clube: “preservar as tradições do clube”. Consultando o dicionário on line, encontro como definição para “tradição”: “Transmissão de doutrinas, de lendas, de costumes etc., durante longo espaço de tempo, especialmente pela palavra: a tradição é o laço do passado com o presente” (fonte:http://www.dicio.com.br/tradicao/ ). Em síntese: dentre outras razões que poderia citar aqui, mas que além de desvirtuar o foco do presente texto ainda renderia um texto maior ainda do que o apresentado, só o fato de ter levado o time de futebol pela SEGUNDA VEZ em CINCO ANOS de novo para a SEGUNDA DIVISÃO, desonrando a tradição de um clube que de lá veio e que, até então mesmo aos “trancos e barrancos” JAMAIS tinha sido rebaixado uma só vez em sua história, já justificaria uma possível retirada do Presidente do poder SE HOUVESSE relegação das vaidades, dos interesses pessoais acima do clube e, acima de tudo isso, RESPEITO pela própria instituição.

Muitos dizem que carnaval é só festa para dar “pão e circo” e “bitolar” ainda mais um povo, tornando-o ainda mais incapaz de lutar por seus direitos. Mas na “ilusão dessa avenida” (grito de incentivo da escola Arranco do Engenho de Dentro), pode-se tirar conhecimentos, ensinamentos, referências: uma dessas citadas, em uma clara alusão de como a Portela pode (e deve) servir de referência para o Vasco, em um futuro próximo. Não somente pela UNIÃO (a cada dia mais utópico em São Januário), porém pela VONTADE DE MUDAR algo que está sem rumo, sem crédito, desgastado e que, no linguajar popular, “já deu”. Tal como o exemplo portelense, o vascaíno, através de seu quadro social, terá mais uma chance em 2014 para mais uma “virada em sua história”, EXPURGANDO do poder os passados mais e menos recentes que “já deram”.

O que a Globo não mostrou

Obviamente, a transmissão da Globo (detentora dos direitos de transmissão de todos os desfiles do carnaval carioca) não iria mesmo dar foco à essa provocação. Naturalmente como é de costume quando vai de encontro aos interesses contrários ao “mais favorecido” da mídia, sua câmera cortou na hora, e os seus comentaristas pela TV em NADA se atreveram a comentar. Mas achei, simplesmente, SENSACIONAL ao final do desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel – cujo enredo foi “Pernambucópolis” – a resposta clara e direta ao Flamengo, à emissora e a tantos outros com interesses em torno da marca sobre o VERDADEIRO CAMPEÃO brasileiro de 1987, homologado pela cooptada CBF nos dias atuais e que sacramentou tal homologação o indicando (ao lado do Guarani) como representantes brasileiros da Taça Libertadores da América, em 1988. Deixo abaixo a imagem, que vale muito mais do que mil palavras.

Fonte: (http://www.emresumo.com.br/2014/03/04/mocidade-independente-provoca-flamengo-com-camisa-sport-e-numero-87_2349.html )

Zico e a mídia

É patético como a emissora “toda-poderosa” desse país insiste em colocar Zico como se fosse um “ídolo nacional”, quando no muito Zico é um ídolo somente de UMA ÚNICA torcida. Torcida essa cujo levantamento por amostragem em pesquisas recentes apontam como em torno de 15% o percentual de torcedores que o clube da Gávea “mais favorecido” possui em território nacional. Ou seja: partindo desse raciocínio e associando a paixão clubística ao fator idolatria, temos um percentual, Zico possui um percentual de 85% que NÃO O CONSIDERAM como ídolo, agravado pelo fato de NUNCA ter sido campeão de qualquer competição significativa defendendo a camisa da seleção brasileira. Ao contrário disso, teve que se despedir oficialmente da seleção brasileira em 28/03/1989 para que a seleção voltasse a ganhar uma Copa América três meses depois, depois de um longo jejum de quarenta anos sem título nessa competição.

ZICO SE DESPEDE DA SELEÇÃO (Fonte: http://globotv.globo.com/rede-globo/bau-do-esporte/v/em-1989-zico-se-despede-da-selecao-brasileira-em-amistoso/1465507/ )

Contudo, o momento mais marcante com Zico vestindo a camisa dez da seleção para OITENTA E CINCO POR CENTO dos brasileiros ainda foi na Copa do Mundo do México, em 1986, cujo vídeo encontra-se hospedado sob o link adiante.

Fonte: [youtube tggWbclF_tU]

Estranha “coincidência”

Quarta-feira passada pré-carnaval: Flamengo já tem a vantagem de ter um jogo no Maracanã pela Libertadores, marcado pela Conmebol. No mesmo dia, Fluminense tem jogo pelo Carioca marcado para Macaé. Quinta-feira passada, pré-carnaval: Vasco tem sua partida transferida do gramado ruim de Bangu para o PÉSSIMO gramado de Madureira. Um detalhe: sendo o Vasco o ÚNICO dos quatro grandes do Rio de Janeiro a ter que jogar contra o time suburbano sob os domínios do adversário.

Sábado de carnaval: já com grande massa de turistas na cidade, Botafogo tem seu confronto marcado para Bangu; e o Flamengo, para o Maracanã. Qual é a opção de jogo como forma de turismo que os visitantes iriam escolher, então? Não por vontade própria, mas por imposição mesmo do calendário já “orquestrado” a levar-lhes a tal escolha.

Essa é para refletir…

“Toques finais”

1º) Muitos já sabem, outros ainda não. Para quem leu o texto, até aqui, passo a ligeira impressão de ser torcedor da escola de samba azul-e-branca de Madureira. Ledo engano: sou mangueirense assumido, herdado assim como o Vasco do coração de meu saudoso pai. Minha mãe, também vascaína, que é torcedora da Águia. E na ausência de possibilidade da Mangueira em brigar pelo título do carnaval, assumo meu papel de torcer pela escola de samba de minha amada mãe. Mas independentemente da posição da Portela na apuração de hoje, às 16 horas, só em sentir a emoção de minha mãe em ver, novamente, sua Águia desfilando com autoridade já é uma grande vitória, agora! Ao menos, nesse primeiro passo de resgate a si mesmo!

2º) Confesso-lhes que somente minha vontade em ir a São Januário acompanhar de perto mais um jogo deficitário desse paupérrimo certame em plena quarta-feira de cinzas e com perspectivas de engarrafamento pelo transito nas ruas da cidade (dependendo da escola campeã) é capaz de superar ao fato de ver Diogo Silva e Reginaldo como titulares de nosso time. Independentemente da escalação e do técnico que possuímos, que venha mais uma vitória, para fechar bem o carnaval de nós, vascaínos, de 2014.

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